BEM VINDOS

REFLEXÕES ECLESIAIS E HUMANAS

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

ROMARIA DA TERRA E DA ÁGUA

No dia 11 de setembro do corrente ano, acontecerá a 22ª edição da Romaria da Terra e da Água, na cidade de IRANI, Meio Oeste catarinense, às margens da BR-153, km 64, a cargo da Diocese de Joaçaba. A escolha do local é muito simbólica, pois, parte da história do Contestado foi vivenciada naquele local, onde ocorreu o primeiro combate, o “Combate de Irani”, no dia 22 de outubro de 1912, com a morte do líder José Maria e militares do Paraná, sendo considerada uma grande vitória dos caboclos na Guerra.  Hoje já é consenso na maioria dos historiadores que o motivo da Guerra do Contestado, não foi pela disputa de território do Paraná e Santa Catarina, até por que a região contestada teve seu embate somente na esfera dos Tribunais, e lá foi resolvida. O motivo do conflito Sertanejo foi a expulsão dos caboclos de suas terras. Esta expulsão se deu como uma das principais conseqüências das atividades econômicas promovidas pela grande empresa estrangeira, ligadas à extração madeireira e a construção da ferrovia, com apoio do governo brasileiro. Também, se juntaram ao lado dos caboclos, os ex-operários da construção da estrada de ferro, e os dispensados de serrarias, ou fugitivos. Com apoio e aprovação do Estado, as empresas se instalaram, e se apropriaram das terras e das riquezas naturais. Politicamente, na região imperavam práticas sociais e políticas conhecidas como “coronelismo”. O “sistema de compadrio” foi permeando as relações de dominação de classe e a cultura política da época. Outra razão simbólica do local é o resgate do próprio nome da cidade, cujo significado é originário do rio que banha o município, e que na língua tupi-guarani, significa mel envelhecido, com isso, o nome Irani tem relação com a beleza e riqueza da fauna, da flora, o remédio natural, o alimento e a vida, valores cultuados pelos povos originários Kaigangs e Guaranis. Romaria é um momento de reflexão para todos os romeiros e romeiras sobre a vida, a terra, a água e, principalmente, uma reflexão que se faz necessária da própria Igreja Católica como instituição, que naquele episódio da história, fez a opção pelos ricos, mandatários e coronéis, responsáveis pela exploração do caboclo sertanejo, destruição das matas e a apropriação das terras de toda a região em litígio. É importante ressaltar a presença da fé junto aos caboclos naqueles tempos de duras lutas, dos Monges João Maria de Agostinho, João Maria de Jesus, José Maria, a Virgem Maria Rosa e outras lideranças do Contestado. Essas pessoas eram animadoras, orientadoras e provocadoras de práticas de partilha. Foram sustentáculos dos pobres, alimentando a luta através da fé, da oração, das devoções populares, convidando o povo para rezar contra a fome, a peste e a guerra, enfim, na defesa da vida. Por isso, João Maria é reconhecido pelo povo caboclo como “São João Maria” e, ainda hoje são encontradas fontes de água que ele abençoava, e a cruz de cedro nos lugares por onde ele passou. Ao contrário do representante da Igreja, Frei Rogério Neuhaus que benzia os fuzis dos soldados do exército para o genocídio de Taquaruçu. Os caboclos, cristãos de fé e princípios, não encontraram na Igreja e no Estado o apoio merecido, daí o apego aos líderes messiânicos. A 22ª Romaria da Terra e da Água é uma das vozes da profecia, denunciando todas as formas de destruição do planeta e anunciando a possibilidade de desenvolver a ética do cuidado em preservar as vidas ameaçadas. Para salvarmos o planeta, há necessidade de mudarmos nosso comportamento cotidiano, e colocar em prática os seguintes verbos: REDUZIR (usar menos água, luz, carro...); REUTILIZAR (usar até terminar – usar de maneira diferente); RECICLAR (fazer coleta seletiva); RECUSAR (o que for supérfluo); e finalmente, REPENSAR (o comportamento cotidiano e ético, não servindo a dois Senhores).

Nenhum comentário:

Postar um comentário